Quando, em 1946, cientistas americanos ligados ao Exército criaram o primeiro computador do mundo, estava-se longe de imaginar o impacto que esta máquina nascida com 30 toneladas e alimentada a cartões perfurados iria ter na vida de milhares de milhões de pessoas ao longo das décadas seguintes.
Com o nascimento dos computadores, da internet e, posteriormente, dos smartphones, tudo se tornou mais simples. Este inexorável avanço tecnológico possibilitou o surgimento dos aplicativos móveis, mais conhecidos como apps. Com o objetivo de facilitar a realização de atividades específicas, elas conquistaram rapidamente os utilizadores de smartphones e trouxeram mais comodidade ao quotidiano das pessoas.
Quando ainda estamos a explorar todo o potencial das apps, eis que surge uma nova palavra no nosso léxico: as Super-Apps.
O que é uma Super-App?
Todos conhecemos as potencialidades de aplicações como o WhatsApp, o Skype, o Instagram ou a Uber. Cada uma tem uma função muito particular. Agora imaginemos que, entre outros, conseguimos reunir numa única aplicação redes sociais, meios de pagamento, comerciantes e programas de fidelização. A esta capacidade de juntar, sob um único aplicativo, funcionalidades das mais diversas áreas com o intuito de acomodar, virtualmente, todos os aspetos da vida dos consumidores é aquilo que se denomina por Super-App.
A primeira e uma das importantes do mercado é a WeChat. Nascida em 2011, esta aplicação chinesa conquistou milhões de utilizadores no Império do Meio que a utilizam não só como um meio de comunicação ou entretenimento, mas também, e sobretudo, como plataforma de negócios.
Ao utilizarem tecnologia contactless, códigos QR e carteiras digitais, estes super-aplicativos oferecem ao consumidor uma experiência de compra e pagamento praticamente perfeita. Com um simples toque no ecrã do smartphone, podemos, entre outras coisas, comprar comida, fazer uma reserva, chamar um táxi ou efetuar um pagamento sem sairmos da mesma aplicação.
Nascidas como simples apps de entrega de comida ou de centro de pagamentos, estas Super-Apps “cresceram” e transformaram-se, passe a analogia, num enorme centro comercial onde, entre dois dedos de conversa e um café, se compra e vende, literalmente, tudo.
Apesar de particularmente enraizadas na Ásia, estes super-aplicativos móveis de comércio e comunicação estão a disseminar-se por todo o mundo, ganhando um ímpeto tremendo no corrente ano com a procura nunca antes vista dos consumidores pelo e-commerce. Em Portugal, por exemplo, a migração do consumidor para o comércio electrónico fez com que a faturação das lojas online de retalho registasse uma subida de 241% em abril face ao mesmo mês de 2019.
Este crescimento refletiu-se, de igual modo, no número de comerciantes que aderiram a meios de pagamento online. A REDUNIQ, durante os meses de confinamento obrigatório, viu os pedidos de adesão às suas soluções de pagamento online como o REDUNIQ@Payments ou o E-Commerce registarem um crescimento de 333% face a 2019. Aliás, dada a complexidade do momento e a invasão positiva do universo online por parte dos negócios, a marca juntou ao @Payments uma funcionalidade que permite aos comerciantes, mesmo que não tenham loja digital, enviarem links de pagamento por WhatsApp ou SMS aos seus clientes.
Para quem não tem site, a REDUNIQ tem parcerias com empresas especialistas em plataformas de e-commerce que disponibilizam lojas online preparadas para integrar as soluções de pagamentos de comércio eletrónico da marca.
A verdade é que, apesar de ser um fenómeno em profunda expansão, o mundo ocidental ainda está a dar os primeiros passos no mundo das Super-Apps pois só agora, gigantes como o Facebook, a Uber ou a Amazon começaram a arrepiar caminho para o desenvolvimento de “ecossistemas” mais amplos construídos a partir dos seus serviços principais.
Independentemente do estádio evolutivo, as Super-Apps são uma realidade e estão a alterar a forma como os consumidores compram, conversam, comem, viajam, se divertem e pagam em todo o mundo. Dado o aumento global de super-aplicativos e da sua importância para o comércio, existem quatro pontos-chave que os comerciantes devem ter em mente.
4 pontos-chave sobre as Super-Apps
1 – Um crescente ecossistema social/comercial
A era de uma aplicação para o pedido e uma outra para o pagamento está a chegar ao fim. As Super-Apps unificam a experiência de compra do cliente e simplificam todos os aspetos da transação. Da pesquisa à compra, passando pelo pagamento, o cliente não tem a necessidade de sair da aplicação, o que acaba por minimizar o risco de abandono do “carrinho virtual” antes de concluída a aquisição.
As redes sociais são um componente central da maioria destes super-aplicativos. Ao reunir pagamentos e plataformas de e-commerce num só ecossistema, estas apps têm a capacidade de não só criarem pontos de encontro para comerciantes de diferentes ramos de negócio, como servirem de canal privilegiado de comunicação com um leque mais alargado de consumidores.
Essa integração permite que, por exemplo, restaurantes se conectem com serviços de pagamento, entregas e reservas sem que o consumidor precise de alternar entre aplicativos diferentes ou carregá-los no seu smartphone.
Estas Super-Apps não se ficam pelo mundo online. Comerciantes que possuem, simultaneamente, lojas online e físicas podem utilizar estes aplicativos de forma simbiótica à imagem do que já acontece com grandes retalhistas como o Carrefour ou o grupo Auchan.
2 – Uma poderosa ferramenta de marketing
Graças à utilização de IA (inteligência artificial) para fazer a gestão de pedidos de compra, ofertas, descontos e opções de entrega, as Super-Apps incorporadas em plataformas móveis (smartphones) podem fornecer uma significativa alavancagem em termos de marketing.
Para além disso, como utilizam códigos QR (código de barras bidimensional que pode ser facilmente digitalizado utilizando um smartphone e que pode ser convertido em texto, endereço URL, SMS, etc), estes super-aplicativos acomodam significativamente maior informação sobre o cliente em comparação com outros tipos de aplicação, o que dá aos comerciantes mais oportunidades de realizar marketing e vendas cruzadas.
A par destas vantagens, estas Super-Apps incorporam sofisticados programas de fidelidade que, indo além da abordagem tradicional de “pontos e recompensas”, criam modelos de marketing mais personalizados que redundam num maior engajamento do cliente com a marca ou produto.
3 – Eficiência nos pagamentos
Aproveitando o que de melhor instituições bancárias e intermediários de pagamentos têm, estes super-aplicativos fornecem transações simplificadas que resultam num processo de compra mais fácil e eficiente que garante um check-out sem atrito e vendas mais altas.
Ao juntar numa só app a excelência dos melhores sistemas de pagamento online e as mais inovadoras plataformas de e-commerce, as Super-Apps oferece ao consumidor um produto multifuncional que se consubstancia numa proposta de valor que vai muito para além dos pagamentos. Mais uma vez vem à baila a ideia de “centro comercial” pois, uma vez descarregada a app, o consumidor sente que encontrará nela tudo o que necessita.
4- Dilemas
Apesar de todas as vantagens elencadas, as Super-Apps levantam algumas preocupações. Práticas anti-concorrenciais, a privacidade do cliente e o potencial favoritismo de um comerciante em relação a outro, devem sugerir uma abordagem cautelosa.
Projetadas para tirarem o máximo partido das potencialidades de um smartphone com ligação à Internet, estas apps podem, contudo, direcionar os consumidores para comerciantes ou serviços específicos, acabando por colocar de lado a livre concorrência. Os especialistas advertem: O foco na acessibilidade e conveniência pode ocorrer às custas da competição.
Outro dos “dilemas” prende-se com a possível perda de controlo sobre o negócio que muitos comerciantes podem experienciar. Ao estarem ligados a uma plataforma que reúne todos os serviços (redes sociais, pagamentos, marketing, etc), neste caso a Super-App, os comerciantes podem ver-se limitados na sua estratégia empresarial futura e descobrir que partes do seu negócio estão fora do seu controlo.
Os recursos colocados à disposição por uma Super-App são atraentes, mas a preferência dos comerciantes continua a ser pautada pelo controlo do seu mercado e pela vontade de comunicar diretamente com os seus clientes.
Conclusão
Entre vantagens e dilemas, a realidade mostra-nos um crescimento exponencial no desenvolvimento e oferta de Super-Apps. Grandes companhias como o Facebook, a Uber, a Amazon ou a Google estão a dirigir-se nesse sentido e, com um cada vez maior número de provedores de pagamentos, emissores e redes globais a interessarem-se pelos aliciantes destes aplicativos “macro”, o futuro pode esperar uma verdadeira torrente de Super-Apps a invadir o mercado.
De igual modo, 2020 “criou” um consumidor interessado em explorar as potencialidades de meios alternativos de compra como o e-commerce e em efetuar os seus pagamentos de forma online ou via tecnologia contactless. Estas tendências de consumo (e-commerce) e pagamento (online e contactless) a somar a uma maior competição global são o alimento predileto destas Super-Apps.
Esculpidas em função dos hábitos de consumo e incessantes na busca de novos desenvolvimentos tecnológicos e parceiros que aportem valor às suas propostas, estas aplicações têm o condão de se acomodarem rápida e continuamente não só ao consumidor, como à própria sociedade como um todo.
* Artigo adaptado de Discover® Global Network.